quinta-feira, 28 de agosto de 2008

"Uma Party à Dragonlance"



Jack estava há perto de meia hora a observer a discussão entre Lithlandis e Sidgahrd, motivada pela guerra entre Khankrauser e Hulrune. Desviou momentaneamente o olhar para Sionna, que parecia mais preocupada com o facto de o pequeno gnomo Mordekai não parar de incomodar o seu enorme tigre, do que com a acesa discussão entre os dois companheiros. Quão diferente estava a druida, da jovem mulher hesitante que conhecera em Scornubel, sempre preocupada com os animais e a tentar serenar os ânimos entre os elementos masculinos do grupo. Quem a via agora, a caminhar pelas ruas de Everlund, indiferente, na companhia de um robusto tigre com dois metros...
Lithlandis tomara uma decisão cujas repercussões nem o próprio Jack conseguia antever, e Sid era agora uma espécie de ídolo entre o povo de Everlund, e as comunidades de anões.
Enquanto olhava para Mordekai, a rebolar no lombo do tigre, pensava em todas as pessoas que se tinham cruzado com o caminho que haviam trilhado. Maevis, Rizzen, Cliff, Dalael, Amophis, John, Thal’Vael, Maxwell...
Estavam todos mudados. O debate estava a subir de tom, e o mais estranho, é que ao contrário do que era habitual, Jack estava genuinamente preocupado com as emoções dos seus companheiros.

“Bom... creio que estamos todos com vontade de procurar novas aventuras, mas há algo que tenho que perguntar... Está tudo bem entre nós? Parecem-me existir alguns conflitos...”

5 comentários:

Psygnnosed disse...

Esta frase do Jack foi um dos momentos que abriu um sorriso de orelha-a-orelha na mente do DM. Algo que passa imperceptível aos olhos dos jogadores, mas que fica registado nas notas mentais do espectador que se senta deste lado do ecrã.
Bem sei que esta não é “uma party à Dragonlance” como o Nev referiu há uns tempos, mas verdade seja dita, na minha perspectiva não se fica muito atrás.
Nem todas as personagens de Dragonlance se davam bem. Poucos gostavam do Raistlin, havia discussões frequentes entre os vários membros, e até quem decidira caminhar em direcções totalmente opostas.
A nossa party tem vida, identidade, emoções fortes, nome próprio, e se fizerem como eu, e olharem vintes meses atrás no tempo, e lembrarem-se do encontro entre o jovem aprendiz de moleiro e os três sinistros drows que conversavam no meio dos petauros... lembrarão por certo o gigantesco caminho que já foi percorrido, e que só pode ser “esquecido” pelo gigantesco caminho que ainda falta percorrer.


“Está tudo bem entre nós? Parecem-me existir alguns conflitos...”

Sim, Jack, existem conflitos... e quão maravilhoso que isso é!

Alex disse...

Haha!

Sim, também acho que o tempo de roleplay permitiu à party criar uma dinâmica mais complexa do que apenas aquele papel inicial. Da mesma forma, acho que os players também estão de parabéns por investirem nas personagens o suficiente para lhes dar algum crescimento emocional para além do crescimento numérico da subida de níveis... Incontáveis são os roleplays que já fiz que até duraram bastante tempo mas em que o "guerreiro badass que mata quem se mete no seu caminho" será sempre isso e nada mais. E não foram poucos os roleplays em que os jogadores se começaram a matar uns aos outros por menos do que as coisas que nós já passámos e fizemos.

A magia que "uma party à Dragonlance" tem é exactamente que apesar dos conflitos e dificuldades, no fim eles acabam sempre por se juntar. E isso foi algo que conseguimos fazer aqui, mas que é bastante mais raro do que nós muitas vezes acreditamos.

Aparte disso, acho que o Jorge exagerou ali um bocadito com a "discussao da meia hora", porque não me parece que tenha havido sequer meia hora de pausa na sessão até ao culminar do Kraken :P... E que cena é essa de andares a escrever crónicas hein? Então passaste a batata quente para nós e agora o dedo nervoso é incapaz de estar parado? Mau, mau...

PS: E sim, o Jack também mudou neste intervalo. Se o Jack sempre tentou dinamizar um pouco a dinâmica da party e alisar algumas rugas, de facto ele está bastante mais preocupado agora do que alguma vez teve anteriormente... Aliás, parece-me que isso é algo que marca maravilhosamente bem este intervalo de tempo que passou e é extremamente adequado ao climax que a história atingiu. Esperemos que assim continue.

Alex disse...

Estava aqui a pensar enquanto relia o que escreves e o que respondi, que de facto vamos ser um pouco prejudicados pela mudança de escritores das crónicas... Obviamente que percebo que o tempo é limitado e o investimento que fazes em D&D é mais do que considerável mesmo que não escrevas as crónicas.
Mas o facto é que a tua posição dá-te uma perspectiva totalmente distinta da nossa, e dá-te espaço para fazeres algumas observações na crónica que se calhar nós não teremos... Vamos a ver se isso vem a prejudicar a crónica ou nao.

Psygnnosed disse...

Qual exagero! Aquilo foi um combate entre eles os dois: 300 rondas certinhas!

Quanto às diferenças de perspectiva nas Crónicas e afins, olha que a minha opinião é contrária à tua. Não vamos perder nada com a mudança de "escritor". Passar-vos as Crónicas é também uma forma de vos incluir mais ainda na história, permitindo que o universo seja mesmo criado a várias mãos (eu não me canso de apostar no meu estranho conceito de "roleplay comunitário"). A vossa perspectiva é tão importante (senão mais) do que a minha.
Para teres uma ideia, o facto de eu ter estado nesta primeira sessão essencialmente caladinho e a observar os vossos diálogos, remodelou por completo a direcção da campanha. Fixa bem as coisas que foram ditas nesta sessão, e daqui a uns meses conversamos. ;)

De resto, à medida que fui ganhando experiência (e tive esta conversa há uns dias com o Nev), acabei por descobrir o quão recompensatório acaba por ser o papel de DM. Inicialmente eu morria de medo dos desvios que o grupo podia fazer, lia atentamente todos os parágrafos de Forgotten Realms para ver se não me falhava algum pormenor importante, etc, etc, etc. Neste momento, o meu posicionamento é de tal forma distinto, que iria precisar de 5 ou 6 posts-testamento para o explicar.
Uma das coisas mais extraordinárias que mudei, foi o facto de me aperceber que é muito melhor esperar que os jogadores "escolham" os NPC principais, e desenvolvê-los a partir daí. Mais giro do que ter o "grande rei com o manto azul que brilha e o cavalo branco com estandarte amarelo", é ter o sargento que só entrou na história por mero acaso, mas que de alguma forma resultou na interacção com o grupo.

Único? É ter os jogadores a escrever a história da sua perspectiva.
Único? É ter os jogadores a quererem criar o brasão do Clã Wyvernrage.
Único? É ter jogadores e DM a quererem desenhar os seus bonecos, cidades, mapas, mesmo toscos e sem qualquer jeito, em vez de ir buscar à net as imagens profissionais que são muito bonitas, mas que "na realidade não era bem isto que eu queria, mas também serve".

Nevrast disse...

Unico mesmo é gente a reunir-se e a cooperar para tornar este mundo em algo que almejamos e lemos em livros escritos pelos grandes carolas das ficções...caneco...dá pica jogar assim! Obrigado a todos pelo tempo em que posso rebolar invisível num tigre de 2 metros :D