quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

"Sionna Laae"


“Uma drow? Boazinha? Que quer um «gatúnfio»...? SUCKS! Drow tem que ser evil, mau, corrompido, satânico!”

Mas esta drow teve sorte... porque era druida! E quando o Psy ouve falar em druidas, fica todo sorridente. Tenho uma estranha simpatia pela classe. Gosto do conceito, identifico-me com ele.
Mas “ter sorte” - tendo em conta que estamos a falar do Psy - é algo muito subjectivo... A primeira decisão que eu tomei em relação à Sionna foi: “Há-de vir a família toda atrás de ti, para te matar, e um deles há-de ser um drider! Tás feita...”

A Sandra apresentou-se inicialmente como o meu maior desafio. De todos os jogadores era quem menos à-vontade tinha com o role-play. Gostava de estar caladinha a um canto, sem que ninguém desse por ela. No Dungeon Master’s Guide II existe uma definição para este tipo de jogador: “lurker”. Mas eu não me ia resignar a isso. Não ia deixar que um jogador ficasse apenas “a observar”. Tive a sensatez suficiente para não a forçar a assumir o “leading role”, algo que só iria deixar um jogador ainda menos confortável, e portanto decidi-me por colocá-la numa posição de “moderação”. Inicialmente, a Sionna era a personagem que iria procurar uma forma de convergir os diferentes membros no sentido de formar um grupo coeso. O facto de ser o único elemento feminino do grupo era uma boa forma de explorar isso.
Mas se pensas que vais apenas moderar “los muchachos” e continuar como se não fosse nada contigo, tas lixada com “F” grande... Ora toma lá a maior reviravolta da história das quests, e amanha-te aí com a batata quente da “jóia/ovo de dragão”.
Gostei bastante da Sionna no primeiro segmento da campanha, foi pena com o tempo ela vir a apagar-se...

Para os que pretendem a revelação de alguns “segredos” do DM nesta série de artigos, vou deixar aqui um deles para satisfazer o bichinho da curiosidade: matar a Sionna chegou a estar nos meus planos!
Quando eu era um DM bastante mais inexperiente achei que o final do primeiro segmento da campanha ficaria bastante mais memorável se fosse suficientemente dramático ao ponto de terminar com a morte de uma personagem. A Sionna apresentou-se-me como a escolha óbvia por duas razões simples. Para começar, desde o início eu percebi que tinha sido um erro permitir “drow” como raça elegível para jogar. Isto levou a uma série de situações de “engonha”, pois ela tinha que se andar a disfarçar para entrar nas cidades “civilizadas”, e estava constantemente a ir parar à prisão porque não seria muito lógico deixar uma drow entrar pelos portões de uma cidade sem mais nem menos. Além do mais, ter um irmão drider a querer matá-la, aliado ao facto de ser a sessão de encerramento da campanha, tornaria a morte da Sionna trágica, apoteótica, e lógica, ao passo que se fosse qualquer outro membro do grupo soaria simplesmente “a uma morte aleatória”. Mas quando chegou “o momento da verdade” observei algo extraordinário: os companheiros moviam-se propositadamente para a manter separada do drider, e assim evitar que este a matasse! E foi aí que a experiência de DM começou a ganhar pontos: nunca ser cego ao ponto de agarrar com unhas e dentes o script original. Deixar o barco seguir para o lado que os jogadores remam!

A Sionna sobreviveu, mas a partir de certa altura começou a divergir consideravelmente do conceito inicial da personagem. Perdeu a “aura” que a ligava a Mielikki e andou um bocado à deriva. Eu notei isto durante todo o segundo segmento da campanha. Excepção feita às sessões iniciais e à interacção com o Asteraceae, chegou uma altura em que eu próprio tinha dificuldade em perceber o papel da Sionna no grupo. O facto de a Sandra não ter comparecido na segunda metade da campanha, aliado ao fantasma que começou a pairar da “troca de personagem” deixou-me um bocado titubeante.

A druida drow passou por uma recauchutagem, renegou uma deusa, trocou um gatúnfio por um mastodonte siberiano, e chegou a nível 10 mais ou menos com este perfil:

Druid 10

STR 12
DEX 18
CON 12
INT 18
WIS 18 (20 com periapt of wisdom +2)
CHA 19

HP 70
AC: 19 (10+4 armor bonus +4 dex modifier+1 ring of natural armor)
Saves: Fort9/Reflex8/Will13
Attack: Melee (1d8+2); Ranged (1d8+1d6electricity+2)
Racial traits (drow) and class features:
Spell Resistance: 21
Darkvision 120 feet
Darkness (1/day)
Dancing Lights (1/day)
Faerie Fire (1/day)
Wild/Dragon Shape (4/day) (Blue/Copper/Green/Silver Dragon)

Animal Companion: Kiba (tiger)
[Str26, Dex18, Con17, Int2, Wis12, Cha6; HP:100; AC: 22; Damage: Claw 1d8+8/Bite 1d6+4/Rake 1d8+4]

Studded Leather armor +1
Ring of Sustenance
Pearl Of Power (headband) 4th level – feito a partir de uma escama de dragão verde
Cloak of Resistance +1
Scroll of cure moderate wounds x2
Wand of cure moderate wounds 46 charges
Wand of cure light wounds 9 charges
Periapt of Wisdom +2
Ring of Natural Armor

Nota: Só agora é que eu reparei realmente no abuso que são as ability scores da Sionna! Holy Mother of the Bitch-Queen!!!!

Pode-se dizer que a nível de estratégia a Sionna tem uma forte afinidade com tudo o que meta trovões. Se algum bardo de Faerûn alguma vez lhe dedicar uma balada, seguramente será o “Thunderstruck” dos AC/DC. A estratégia preferida da drow passa por começar a fazer chover trovões, seguido do apoio da cavalaria: leia-se “invocar hipogrifos”.

E o que terão os companheiros de viagem a dizer desta “Tempestade Obsidiana”?

"Dividida e hesitante, esta drow já provou o seu valor vezes sem conta. Recentemente, a sua relação com os dragões complicou-se e tornou-se muito mais interessante. Algo a observar com mais calma no futuro próximo." – Jack

“A renegada... Eu via nela alguém que abandonou a sua raça para adorar uma deusa.
Mas quem será ela agora, sem deusa? – Sidgahrd


Há essencialmente dois tipos de jogador: os proactivos, e os reactivos. Os proactivos marcam o seu próprio ritmo, moldam a campanha à imagem da sua personagem, enquanto os reactivos preferem esperar e reagir aos elementos que o DM “atira” contra a sua personagem. A Sandra é essencialmente reactiva, espera que algum obstáculo/missão surja em frente à Sionna e reage ao mesmo.
Para o DM é mais difícil articular com os jogadores reactivos, pois nunca sabe se vai seguir por um caminho que defraude as expectativas do jogador. Quando ocorreu a recente alteração de personalidade da Sionna, eu decidi ficar à espera para tomar o pulso à “nova faceta” da personagem. Mas mais uma vez ela ficou em “reactive-mode”... Estava um pouco sem saber muito bem o que fazer quanto à nova Sionna, quando subitamente me apercebi que a resposta esteve sempre à frente dos meus olhos!
Não tenho dúvidas que muito em breve ela vai ter que sair novamente do seu “grove” e tomar um papel bastante mais proactivo! Isto, claro, se ela quiser ser alguém capaz de deixar a sua marca na História, e não ser apenas “mais uma drow que fugiu do Underdark”.

Fiquei contente por a Sionna ter continuado no grupo. Teria ficado bastante desmotivado se ela tivesse saído de cena, deitando por terra todo o trabalho até então construído. No entanto, de momento, parece-me que a Sionna de certa forma perdeu a sua identidade no grupo. Não estabeleceu ligações fortes com nenhum NPC até ao momento, nem mostrou particular interesse em nenhum grupo/ideologia. A cumplicidade inicial que existia com o Lithlandis também foi esmorecendo. Do olhar privilegiado de DM, dá-me a sensação que de momento a Sionna é uma espécie de “carta fora do baralho”, e que vai ser precisa muita força anímica da Sandra para conseguir remodelar a personagem em todo o seu esplendor e potencial.
O futuro dir-nos-á se de facto ter renegado a mão de Mielikki foi o passo que faltava para o despertar da verdadeira Sionna, ou se realmente ela nunca conseguirá ser mais do que “uma drow boazinha com um gatúnfio”...

O desafio está lançado...

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